Hemorragia digestiva, homicídio ou nenhuma das anteriores? - A importância do exame do corpo no local
DOI:
https://doi.org/10.51126/revsalus.v7isup.1018Keywords:
hemorragia, exame do localAbstract
Introdução: a existência de sangue no cadáver e/ou nas suas imediações pode levantar a suspeita de morte violenta com intervenção de terceiros à autoridade policial chamada inicialmente ao local (1). Nesse sentido, o exame do corpo no local realizado por uma equipa multidisciplinar (incluindo o médico legista) pode fornecer elementos essenciais para a correta interpretação do caso e para a distinção entre causas hemorrágicas naturais e hemorragia na sequência lesões traumáticas (1).
Objetivos: Com o presente trabalho, pretende-se expor um caso em que um rigoroso exame do corpo no local foi determinante para a interpretação dos achados da autópsia médico-legal e para a determinação da etiologia médico-legal da morte.
Materiais e Métodos: Foi realizada uma autópsia médico-legal e elaborado o respetivo relatório pericial.
Resultados e Discussão (Relato do Caso): vítima do sexo masculino, de 61 anos, com antecedentes de cirrose hepática alcoólica e internamento recente por rotura de varizes esofágicas. Terá estado num bar com um vizinho, que lhe terá dado boleia, deixando-o a cerca de 200 metros de casa. Na manhã seguinte, foi encontrado caído numa casa em construção perto do local onde tinha sido deixado, com bastante sangue ao redor do cadáver, o que levantou a suspeita de crime. No exame do corpo no local observou-se que a vítima estava caída junto a um muro de cerca de 3 metros e que na beira do mesmo se encontrava um maço de tabaco e chaves pertencentes à vítima. Em sede de autópsia médico-legal observou-se, no exame do hábito
externo: sangue na camisola, face e membros superiores, equimoses e escoriações na hemiface esquerda e membros, bem como deformidade do membro inferior direito. No exame do hábito interno, destaca-se: lesões traumáticas crânio-meningo-encefálicas e fratura subtrocantérica do fémur direito, bem como vasos ectasiados na submucosa do terço médio do esófago, 600 ml de sangue no estômago, sangue na via aérea inferior e cirrose hepática micronodular. O exame toxicológico revelou etanol de 3.27 g/L e o exame anatomopatológico revelou varizes esofágicas, achados pulmonares compatíveis com aspiração de sangue e hemorragia meningo-encefálica. Assim, concluiu-se que morte foi devida às lesões traumáticas
crânio-meningo-encefálicas e do membro inferior direito, associada a hemorragia digestiva alta, em vítima com varizes esofágicas e intoxicação alcoólica, nada obstando a uma etiologia médico-legal acidental (queda do muro).
Conclusões: no caso relatado, identificou-se uma origem mista para a hemorragia verificada no local: hemorragia digestiva alta (essencialmente) e lesões traumáticas. O exame do corpo no local, nomeadamente o padrão de distribuição de sangue e a presença de um muro com pertences da vítima, foi crucial para a interpretação do caso e dos achados da autópsia médico-legal. Assim, pretende-se realçar a importância de um rigoroso exame do corpo no local, bem como a necessidade da presença do perito médico-legal, que para além de um vasto conhecimento sobre temáticas forenses, deve estar familiarizado com patologia natural que pode mimetizar achados suspeitos de mortes violentas. Deste modo, a abordagem em autópsia e conclusões periciais serão o mais rigorosas possível, sendo determinantes, a nível judicial, no esclarecimento das circunstâncias peri-mortem.
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