A prevenção primária da violência sexual em adolescentes através de programas apli-cados em contextos escolares e comunitários: Uma Revisão Scoping

Resumo

Introdução: A violência sexual (VS) é um problema de saúde pública global com graves consequências de curto, médio e longo prazo para o bem-estar físico, mental, social e sexual das pessoas vítimas [1]. As trajetórias de vitimização e perpetração podem iniciar-se desde a infância e adolescência [2]. Considerando a evidência relativa à prevalência e às consequências da VS na adolescência, assim como os indicadores de responsividade da VS às intervenções preventivas, vários grupos de autores têm considerado que esta deve ser abordada no contexto de programas de prevenção primária aplicados em escolas e comunidades [3, 4].
Objetivos e metodologia: Esta revisão scoping teve como objetivo sumariar a implementação, a metodologia, as caraterísticas e a eficácia dos programas de prevenção da VS realizados em contextos escolares e comunitários com alunos do ensino básico e secundário. Este estudo procurou ainda reunir recomendações para investigação futura. Foram usadas três bases de dados para conduzir a pesquisa: EBSCOHOST, SCOPUS e Web of Science. Foram analisados 86 estudos empíricos, revistos por pares, sobre programas de prevenção da VS aplicados em contextos escolares e comunitários com amostras de estudantes.
Resultados: Quanto à implementação, a maioria dos programas de prevenção da VS foi aplicada nos E.U.A. (73,1%), embora tenham sido identificados estudos em todos os continentes. Relativamente à metodologia e características, a maioria dos estudos originais (46,3%) utilizou medidas focadas na violência sexual, embora muitos tenham analisado a violência sexual no contexto da violência no namoro (43,3%). Os programas parecem estar a melhorar a sua qualidade, substituindo as sessões únicas por estratégias que envolvem várias sessões e permitem a discussão de um conjunto alargado de conteúdos. Também se tem verificado uma melhoria nas metodologias utilizadas para a avaliação da eficácia destes programas, nomeadamente através de ensaios clínicos aleatorizados. Quanto à eficácia, os programas de prevenção analisados tendem a reduzir as atitudes associadas à VS, a perpetração e a vitimização associadas à VS e a aumentar os conhecimentos sobre a mesma. Além disso, os programas analisados tendem a aumentar as atitudes e os comportamentos bystander (i.e., a capacidade de intervenção em situações de VS).
Conclusão: Os resultados desta revisão mostraram que os programas de prevenção da VS têm sido aplicados em todo o mundo, registando-se um aumento do investimento nesta área de investigação nos últimos anos. A evidência atual sustenta a eficácia destes programas, embora sejam necessários estudos futuros para clarificar as especificidades da prevenção da VS (por exemplo, quanto ao potencial papel da tecnologia ou ao momento ideal para aplicar este tipo de programas). Além disso, a revisão identificou a necessidade de uma maior clareza concetual, informada por uma abordagem de prevenção ao longo da vida, que deverá, por sua vez, orientar melhorias no desenvolvimento e avaliação de programas de prevenção. Atendendo às lacunas identificadas, este artigo fornece recomendações para investigação futura quanto à avaliação das variáveis associadas à VS, ao papel da tecnologia, ao envolvimento de adultos e comunidades, ao momento das intervenções, à educação sexual e às práticas de partilha de resultados científicos.